Escrito por: Frida Gielc Frankfurt

Revisão: Bernardo Issler
Design: Milena Issler
 

Apresentação

Quando concluiu, em 1993, a narrativa da sua história de vida, Frida Gielc Frankfurt resolveu guardar o texto tal como tinha sido datilografado. Era apenas uma lembrança para sua intimidade.

Foi por acaso, num ímpeto saudosista, depois de trocar notícias sobre nossos parentes que tive acesso aos originais amarelados pelos sete anos que ficaram guardados entre fotografias e outros papéis.

Viúva, na tranquilidade do seu apartamento, sobrou-lhe tempo para rever o passado, ordenar as fotos colecionadas há mais de 60 anos e, principalmente, para vencer a resistência da sua modéstia e também dos que diziam que "... a ninguém interessa essas histórias." Mas, Frida, pensou nos seus netos e sua intuição falou mais alto. Eles não só deviam mas também tinham o direito de conhecer um pouco da heróica história de Malka, sua mãe, das suas lutas e sacrifícios.

Essa mesma intuição aproximou-a de historiadores e pesquisadores das ciências humanas quando afirmam que "na sociedade hipermoderna os indivíduos são, cada vez mais, deixados a si mesmos, sem lugar de referência, vazios, flutuantes e deserdados."

Ao escrever este texto, espontaneamente, recorrendo à sua memória e às recordações que sua mãe lhe confidenciava, Frida, produziu uma história de vida no sentido de que "toda história de vida inclue sempre um movimento de descentralização de si, em direção aos outros, através do espaço familiar para a lógica das relações sociais".

Tive dificuldade em convencê-la a divulgar este texto, guardado até então, como um diário pessoal. Foi datilografado por ela mesma na sua velha Olivetti portátil, escrendo como se estivesse falando, contando para alguém esse relato de algumas vidas. Sempre sentiu necessidade para fazer da sua vida uma história e, com ela, resgatar a história daqueles a quem a História oficial não costuma reservar um lugar...

Felizmente, já de algum tempo até aqui, os cientistas sociais se deram conta da importância deste tipo de narrativa, que é um fragmento sócio-histórico. Para eles a "...história de vida mobiliza em cada um, pela resignificação ou pelos desdobramentos da sua vida, o poder de transformar."

Este depoimento de Frida trás-lhe a condição de indivíduo social e aporta aos seus uma herança familiar mostrando uma trajetória de suas condições concretas de existência.

O texto que segue e seus intertítulos são inteiramente originais tendo ocorrido apenas algumas modificações ortográficas bem como a inserção das fotos que documentam diversos momentos ou personagens da narrativa.

São Paulo, 9 de julho de 2002
Bernardo Issler

As frases citadas referem-se ao artigo "Lés Récits de Vie", do n° 102, fevereiro de 2000, da revista "Sciences Humaines", Auxerre, França.